Decidir fazer um curso fora do Brasil, seja de graduação, pós ou até mesmo com foco em aprimorar o inglês, exige não só pesquisa como planejamento – ficar ligado nos prazos, reunir toda a documentação e, principalmente, organizar-se financeiramente.
Sabemos que ser estudante não é fácil, em especial quando sentimos que a vida é um boleto atrás do outro. Em geral, esta parcela da população não conta com grandes somas financeiras, sobrando pouco para guardar – e pensar na cotação das moedas estrangeiras pode assustar qualquer um que pense em estudar fora.
Com planejamento, porém, é possível reunir a quantia necessária para viajar, sem se enrolar com os juros dos empréstimos ou se endividar. Pensando nisso, o loveUK conversou com educadores financeiros e reuniu algumas dicas de aplicativos e melhores opções de investimento, que poderão auxiliá-lo neste processo.

Por onde começar?
O primeiro passo para começar o planejamento financeiro faz parte da sua pesquisa à cidade de destino. De quanto você precisa, não só para pagar passagem e taxas de matrícula, mas também para se manter no país, mensalmente? Faça este levantamento, levando em conta questões como a sua hospedagem, supermercado e transporte – uma dica é pesquisar em sites de viagem e fóruns de estudantes internacionais sobre o custo de vida da cidade, assim você consegue valores mais aproximados de quem já vive ali.
Em seguida, é importante avaliar quanto de dinheiro você já tem e se há alguma fonte de renda da qual pode contar para, assim, fazer um “cálculo contrário”: quanto falta para juntar o valor levantado e a partir daí ter uma ideia de quanto deve reservar ao mês.
“É importante que a pessoa pense que todo o dinheiro que ela ganhar, uma parte pré calculada deve ser destinada à viagem. O objetivo é tirar o dinheiro da sua frente e deixá-lo separado para não ser gasto com outra coisa. É preciso se dominar e passar por um processo de empoderamento financeiro”, explica Victor Barboza, Coach Financeiro.
Fundador da Gestão Financeira Criativa, site que foca na gestão de pequenos negócios e finanças pessoais, Victor sugere, ainda, que ao viajar a pessoa defina em envelopes as quantias destinadas a cada gasto. “Se deixar tudo em um mesmo bolo, você corre o risco de gastar com supérfluos. Eu brinco que é como dar nome para cada envelope: este é para hospedagem, este para alimentação…”.

Já o educador financeiro Claudio Ferro alerta que quem for começar um planejamento tem que pensar no processo inverso de pagamento de contas mensais: primeiro reservar uma parte do dinheiro, assim que recebê-lo, para depois lidar com os gastos fixos. “Se for na lógica de primeiro pagar todos os boletos e depois ver quanto sobra pra aplicar não vai sobrar nada, nunca sobra, porque você acaba gastando com alguns supérfluos, compra uma pizza… Uma vez ouvi do Warren Buffett, o acionista americano, que ao receber seu salário ou mesada, separe pelo menos 10% do dinheiro e invista de cara. A partir daí, você lida com as suas contas e seu planejamento. Com isso, você tem uma disciplina de evitar gastar com supérfluos ou entrar no cheque especial, deixando o mês mais longo. Psicologicamente, você se adapta ao que tem. Se você tem 3, vai ter uma vida baseada nesses 3. Se tem 5, vão ser 5, e por aí vai. Você se adapta”.
Diretor executivo da plataforma PoupaBrasil Investimentos, Claudio recomenda que a pessoa monte uma planilha com todas as contas e gastos, de forma que veja “no papel” o dinheiro que foi usado de forma supérflua e que poderia ser destinado a um lugar melhor, como em um investimento.
Aplicativos financeiros
Atualmente, graças à tecnologia, existem aplicativos destinados especificamente a auxiliar e controlar seus gastos. Disponíveis para todos os sistemas operacionais de smartphones, a sua planilha pode ficar o tempo todo nas suas mãos, mas “o principal ponto na hora de escolher um para usar é que este deve virar seu hábito, tem que ser de uma forma que você consiga usar no dia a dia ou pelo menos uma vez na semana”, alerta Victor.
Reunimos algumas opções para você começar:

1. Mobills – Gratuito, este aplicativo é um dos mais populares, tendo recebido este ano o selo de excelência do Google pelo alto desempenho. O Mobills possibilita a criação de categorias para gerenciar as despesas, atualizando o fluxo de gastos em tempo real e disponibilizando gráficos interativos de fácil interpretação.
É possível, ainda, montar um planejamento mensal que estipula metas de economia, confere o extrato do cartão de crédito e ainda envia avisos por e-mail sobre prazos de contas a pagar.
2. GuiaBolso – Este oferece uma conexão direta com as suas contas bancárias, de forma segura. O aplicativo possibilita o controle automático de finanças, acompanha a situação do seu CPF e oferece, ainda, a opção de fazer um empréstimo pessoal virtualmente, cobrando juros de 2,8% ao mês.
3. Wisecash – Totalmente gratuito, este aplicativo é ideal para quem não utiliza a maioria das funções que aplicativos de finanças oferecem. Já na sua primeira tela, é possível acessar o saldo anterior, despesas, receitas e saldo atual, podendo cadastrar sua conta bancária e acompanhar as movimentações por meio de gráficos.
4. Gastos Diários 3 – Aplicativo oferece duas versões: a gratuita, que disponibiliza a classificação das despesas em categorias e o agendamento de contas fixas, e a paga, que além dos outros recursos faz o balanço das contas e reúne as informações em gráficos.
5. Organizze – O aplicativo não precisa de internet para funcionar e utiliza uma proteção por criptografia das informações inseridas. Ele sincroniza contas, calcula o saldo consolidado entre elas e faz o demonstrativo de lançamentos do mês. É indicado a usuários menos experientes, devido à sua interface simples, sendo possível ainda organizar as despesas por categorias e subcategorias.
“Existem as mais diversas opções de aplicativos de finanças para organizar o seu orçamento. Escolha aquele que mais se encaixa no seu perfil. No entanto, lembre-se de que o uso da tecnologia não é garantia de sucesso. O que vale mesmo é você desenvolver hábitos saudáveis de administração do seu dinheiro. Dessa forma, fica muito mais fácil criar uma poupança para investir nos seus sonhos”, lembra Claudio.
E quanto a investimentos? O mercado financeiro possui nomenclaturas e conceitos que podem deixar qualquer leigo confuso. Segundo Claudio, este é um dos motivos para a poupança no Brasil ter um volume de investimento muito maior: a falta de conhecimento. “Parece mais fácil, não precisa quebrar a cabeça. Só que a poupança rende muito pouco”.
Há, porém, boas opções de investimento que não aquelas de risco, como é o caso da bolsa de valores e aplicações de fundos muito agressivos ou com variação de moeda – lembre-se que estes investimentos dependem do mercado financeiro e de situações políticas, o que gera especulação.

Ambos os educadores financeiros recomendam o investimento em rendas fixas. Como o próprio nome já diz, esta modalidade permite que o investidor possa prever a rentabilidade antes mesmo de realizar a operação e ainda conta com a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o qual oferece uma cobertura de até R$250 mil caso aconteça algo com o seu dinheiro.
“[o FGC] existe em todos os bancos do Brasil e em todas as financeiras. Isso não se estende para bolsa de valores ou operações de risco, só renda fixa. Esta é a melhor opção para o investidor jovem”, diz Claudio, que explica ainda que o investimento em renda fixa também é o preferido de detentores de grandes finanças: “com essas eleições, eu observei a declaração do imposto de renda dos candidatos. O [João] Amoêdo tem um valor alto de renda, mas todo o seu dinheiro está investido em renda fixa. Ele já foi vice presidente de banco, mas tem zero exposição ao risco. Henrique Meirelles, que foi presidente do Banco Central, também tem zero ações, só renda fixa é o foco dele. Então, mesmo para o caso de pessoas que trabalham mais, a renda fixa é sempre um ponto seguro, que vai ter rentabilidade acima da inflação. Eu indico muito esse caminho, não tem dor de cabeça”.


O investimento em renda fixa funciona como um “empréstimo” às empresas, bancos, governo e instituições financeiras. Eles utilizam o dinheiro para financiar projetos e outras atividades e, em troca, devolvem a quantia acrescida de uma taxa de juros. As opções mais conhecidas de renda fixa são:
1. Tesouro Direto – A opção mais procurada para fugir da poupança. Trata-se de um programa do Tesouro Nacional para negociar a dívida mobiliária nacional com pessoas físicas, por meio de títulos. Na prática, é como se a pessoa pudesse assumir uma parte dos débitos do governo, sendo remunerada por meio de taxas que variam diariamente. O Tesouro Direto garante o rendimento contratado, podendo começar com somas bem baixas – com apenas R$30 é possível comprar uma fração. Vale lembrar, porém, que sobre estes rendimentos incidem impostos e taxas de custódia cobradas pelos bancos de investimentos.
2. Certificado de Depósito Bancário (CDB) – Esta opção pode render até o dobro do que é investido na poupança e tem a mesma lógica do Tesouro Direto. O CDB é emitido pelos bancos com o objetivo de captar recursos para financiar suas atividades, como empréstimos a outros clientes e melhorias na sua estrutura, devolvendo ao investidor a quantia com juros. Para o caso de bancos menores, a rentabilidade dos títulos pode ser ainda maior, em comparação com as instituições maiores.
Assim como na opção acima, o CDB também está sujeito a cobranças de impostos, com alíquotas que variam de acordo com o prazo contratado. Ao aplicar, observe o quanto de imposto será incidido.
3. Letra de Crédito Imobiliário (LCI) ou do Agronegócio (LCA) – Os títulos são bem parecidos: na LCI o dinheiro captado será utilizado em financiamentos no ramo de imóveis e na LCA a quantia é destinada ao ramo agropecuário. Ambos possuem um prazo mínimo para resgate, o que significa que, se no contrato estiver previsto pelo menos 60 dias para resgatar o valor aplicado, não será possível utilizá-lo antes.
No caso do LCI, depende-se do mercado imobiliário, então quando este estiver em alta os ganhos são maiores e quando em baixa, o rendimento será menor. Já a LCA se baseia nos valores emprestados a produtores rurais de todos os portes. Assim, a variação depende do quanto de dinheiro está sendo movimentado na forma de empréstimos.
Em ambas as opções é possível começar com quantias em torno de R$500, a depender da instituição financeira, e são isentas de Imposto de Renda.
Há outros métodos de renda fixa, sendo possível escolher a que melhor se encaixa no seu planejamento e objetivo. A PoupaBrasil faz uma simulação que compara sua aplicação para cada investimento em tempo real, permitindo que a pessoa não dependa de terceiros para fazer suas decisões. É possível investir também em mais de um título, assim se a rentabilidade de um não estiver tão boa em um momento, os outros podem compensar.
Empréstimos Quem pensa em fazer um empréstimo para custear os estudos no exterior deve sempre levar em conta a questão dos juros. “A pessoa tem que pensar que se resolve pagar à vista pode vir a ter um desconto [nas taxas], mas se vai parcelar ou pegar um empréstimo tem que pensar que vai acabar pagando mais caro lá na frente e ela deve estar preparada e ciente de que este dia vai chegar”, afirma Victor.

O criador da Gestão Financeira Criativa explica que se a pessoa irá recorrer a esta opção, deve prestar atenção ao pesquisar os lugares que oferecem empréstimo, pois há instituições que possuem parcelas pequenas, mas a taxa é alta, tornando o valor muito maior do que foi emprestado. “As pessoas acabam fazendo naturalmente: elas vão no banco que têm conta e pegam um empréstimo ali, mas isso é um processo equivocado. Tem sites, no estilo do Buscapé, que fazem comparativos pra empréstimo financeiro de diversos lugares. Existem inúmeras opções no mercado além do banco. Tem até startups com taxas de juros mais atraentes”.
Já Claudio não recomenda fazer empréstimos no caso de estudantes. “Empréstimo sempre tem essa questão dos juros. Ninguém dá nada de graça. Se a pessoa tiver um planejamento financeiro, se conseguir se organizar e fazer isso de uma forma com mais disciplina, eu recomendo que fuja dos empréstimos. O correto é se programar, fazer o planejamento desde cedo. Nunca é tarde para começar, seja você uma pessoa de 20, 30 ou 40 anos”, afirma.
Começando a pagar Em ano eleitoral, sempre há uma alta variação no câmbio da moeda. Assim, é importante ficar de olho nas taxas para ir pagando aos poucos, tanto as taxas quanto dinheiro em papel, ao invés de pagar tudo de uma vez. Há sites que comparam as taxas das casas de câmbio de cada cidade do Brasil e o Meu Câmbio oferece uma variação da moeda de interesse, podendo até apresentar taxas mais atrativas, a depender da sua cidade.
“É importante também se planejar para comprar [a moeda] aos poucos e ter de fato dinheiro em papel, para não chegar no lugar e só pagar com cartão de crédito, pois ainda tem impostos, IOF, sendo um dinheiro que vai além daquele que você planejou”, finaliza Victor.